domingo, 6 de dezembro de 2009

Repentemente


imagem jardim das delícias H. Bosch

Repente, não mais que repente, foi quem cantou no meio da rua.
Sob o olhar atônito das pessoas, que igual cantavam ordenadamente,
se fez uma voz no ruído e no passo silente.

Repente foi também aquele olhar dentro do metrô,
que durou um futuro dentro do ofurô.
Como o futuro demora muito!

De repente desistimos do abandono
e escolhemos um caminho, uma viela, um contorno.

Um encontrão, esbarro; uma abalroadela.

Repente foi o susto na contra-mão.
Será que sou eu ou todos que estão errados?
Quando todos erram, toldos acertam.

Ví meu relógio andar para trás.
Pensei que havia ele estado louco.
Foi então que percebi que todos estavam outros.

De repente o furgão do Tempex surgiu com minha encomenda:
a carta repentina já estava há muito escrita.
Não há nada que seja repente que não tenha havido antes na vida.




mauriciet7&SANtos,2010






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