segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

os deuses de Kirk, Pepê e Gatão


Desatinos de um desatento
Para Kirk, Pepê e Gatão. 









Quanto desengano se abate no povo rude
Enquanto observar pude
nas ruas da cidade, a procura de seu tento
O sujeito, desatento,
Confunde o que crê, ser deus
que não convém com seu tempo.


Tamanha é a vontade do apego,
que o primeiro que lhe é perto,
agarra como se fosse certo
e lastima que não fosse de emprego.


Gente destelhada é assim mesmo:
Como rês fraca.
Anda para trás, com as pernas tronchas
ronca mas não berra prá vaca.
Garrote de linha é diferente,
não empaca, anda prá frente
vê a fortuna como outra gente.


Não precisa de olhos grandes prá deus ver.
Levanta a pedra da campina sêca, que bença,
e vê a vida,
que não é tonta
prá mode de se dar conta
de que o desengano não é crença.


O desconfio não afronta os olhos
Se a criatura tem tenência,
deixa a própria providência
que se encarrega de mostrar.


Deus passeia por lá.
Na folha da laranjeira
mais redonda que passageira,
cheia de prosa da laranja
que só a fruta mesmo pode contar.


Quando o vento sopra o pinheiro
os galhos gemem ligeiro.
Os bichos que vivem dentro do espinheiro
protegem o resto inteiro.
E o tal do formigueiro,
que no labirinto do mundo escondido
deixa passar desapercebido
a ferveção diante do luzeiro?


Quem vê deus não vê outra coisa.
Mesmo antes de morrer, não carece engrandecer.
A montanha antes do entardecer
nada é senão pedaço de grão,
que com os olhos do coração
fica mais fácil de entender.


É, você já botou reparo no zumbido da abelha?
Na ideiação da aranha na teia?
A araponga que calcula seu trinar?
O sabiá que gorgeia seu sabiar?
É, deus passeia por todos esses “artá”.


Todos os povos vivem de respeito.
As árvores, os povos em pé
os rios, os povos deitados
tá tudo muito bem ajeitado
prá caboclo nenhum pode desfazer.


Ainda que tudo fosse liso,
nem mesmo a chuva de granizo
nos faria emudecer.
A montanha do povo de pedra:
sua fenda e sua grota
faz a gente subir de trote
e reparar o que d’ele brota.


O arrogado do rio fundo cassoa.
Fundo e alagadiço se faz traiçoeiro.
Corredeira tranqüila no seu leito raso,
leva embora o incauto canoeiro.


Deus nunca fugiu da gente,
em nenhum instante.
Na tromba do elefante
nem no bote da serpente.
Deus é amável e certeiro.
No veneno ele corre como o carneiro
jogado no ar pelo seu bote ligeiro
corre pelo sangue na criatura alerta
e está sempre disponível
como uma porta entreaberta.

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