MEXERAM NA MINHA BÚSSOLA
POUR MAURICE SANTOS
Quando bateram na minha porta pensei que fossem, de novo, as crianças do hallowe’en. Desta vez iria pedir feitiçaria. Mas não precisou. Antes mesmo de xeretar no olho mágico, desconfiei que, pelo horário, só podia ser algo do Pimentone: vou enfiar uma xixica embaixo da porta e quem sabe o monstrengo lá fora vai tombando, como diz mamãe. Preparei minha xipalapala. Tarde da noite tem entregador de pizza, comida chinesa, delivery do rei do bacalhau ... e o carteiro do pólo sul. Pois é, lá também funciona, e olha que é longe. No Mar de Wedell, enseada de Terra Coats, tipo paralelo 40º, não tinha idéia que alguém viria me visitar. Afinal não sou nenhum príncipe nem conhecido de Marta, Astrid, Rognhild, Olaf, Elisabeth, Jorge V ou outro da corte, nem tampouco queria competir com Roald Amundsen ou Shackleton.
Vão me tirar daqui de novo! Como me acharam? Calculei: estava um pouco mais da longitude 40º: Mercúrio a 57.000.000 kilômetros. Maravilha de telescópio que ganhei do Johnny. Não importa que ele comprou na 25. O fato é que funcionava: made in China, vi embaixo do tripé. Não haveria então que me preocupar com o calor. A não ser este maldito aquecimento global. O círculo polar antártico ficava cada vez mais pra cima. Não! Eu ´tava indo pra baixo. Ali, acho, alguém haveria finalmente de constatar meu esquecimento global.
O relógio, presente da Okies, já estava congelado e não funcionaria mais. Parou ao meio dia e doze minutos. Sem rádio relógio, nem sol pra fazer um gnono perdi a conta. Me lembrei da bússola. O ponteiro do pólo norte não parava de se mexer. Ficou tremendo por uns, sei lá, seis dias; depois parou.
Fixei um ponteiro encima da bancada da estação. Alinhei o pólo norte com o ponteiro externo à bússola. Pensei comigo: a mesa não mexe, certo? Se o ponteiro da bússola mexer é porque o planeta 'ta mexendo! Uau, très loucure malandre! A mesa não tinha como se mexer. Ah, talvez até, caso a placa inteira do polo sul mexesse; ela poderia, desgovernada do jeito que anda: fiz então um marco fora da casa alinhado com um ponto virtual no mar correspondente ao Cabo Vahsel, por via das dúvidas. Fui percebendo que a agulha do norte começou a se deslocar. Não havia interferência de nada a não ser da minha respiração e, lá de fora: uma tempestade de neve que mais incomodava as focas.Só uma coisa poderia alterar tanto a agulha da bússola: o próprio eixo magnético do planeta. Mas como? - perguntei - o marco da bússola caminhava lentamente para o equador. Imaginei o que poderia estar acontecendo em todos os equipamentos que se utilizam dos efeitos eletromagnéticos: ou seja, quase tudo. Certa vez ouvi de um físico barbudo e mal encarado que se um dia o campo magnético da terra invertesse os pólos, seria porque o centro do planeta, o magma, estaria rodando em direção contrária, e os spins dos elétrons iriam também inverter e com eles a terra iria ficar up-side-down. Mas que besteira, imaginei.
Depois que eu fiz a última ressonância magnética no meu calcanhar eu entendi que os campos eletromagnéticos poderosos alteram os spins dos elétrons. É isto mesmo o que acontece com o exame na imagem RNM.
O relógio, presente da Okies, já estava congelado e não funcionaria mais. Parou ao meio dia e doze minutos. Sem rádio relógio, nem sol pra fazer um gnono perdi a conta. Me lembrei da bússola. O ponteiro do pólo norte não parava de se mexer. Ficou tremendo por uns, sei lá, seis dias; depois parou.
Fixei um ponteiro encima da bancada da estação. Alinhei o pólo norte com o ponteiro externo à bússola. Pensei comigo: a mesa não mexe, certo? Se o ponteiro da bússola mexer é porque o planeta 'ta mexendo! Uau, très loucure malandre! A mesa não tinha como se mexer. Ah, talvez até, caso a placa inteira do polo sul mexesse; ela poderia, desgovernada do jeito que anda: fiz então um marco fora da casa alinhado com um ponto virtual no mar correspondente ao Cabo Vahsel, por via das dúvidas. Fui percebendo que a agulha do norte começou a se deslocar. Não havia interferência de nada a não ser da minha respiração e, lá de fora: uma tempestade de neve que mais incomodava as focas.Só uma coisa poderia alterar tanto a agulha da bússola: o próprio eixo magnético do planeta. Mas como? - perguntei - o marco da bússola caminhava lentamente para o equador. Imaginei o que poderia estar acontecendo em todos os equipamentos que se utilizam dos efeitos eletromagnéticos: ou seja, quase tudo. Certa vez ouvi de um físico barbudo e mal encarado que se um dia o campo magnético da terra invertesse os pólos, seria porque o centro do planeta, o magma, estaria rodando em direção contrária, e os spins dos elétrons iriam também inverter e com eles a terra iria ficar up-side-down. Mas que besteira, imaginei.
Depois que eu fiz a última ressonância magnética no meu calcanhar eu entendi que os campos eletromagnéticos poderosos alteram os spins dos elétrons. É isto mesmo o que acontece com o exame na imagem RNM.
Bom, quero dizer que a Groelândia estava prestes a se tornar a Antártida e onde eu estava o oceano glacial ártico!
Tive que mudar minha cama de lugar. Ajeitei a cabeceira do lado oposto. Minha cabeça ficou apontada para onde a bússola mostrava o sul. Estranho, very weird! Dormi bem encolhido aquela noite. Acordei também não sei que hora e nem sei porque: meus pés estavam batendo na cabeceira! Mas de que me interessaria, afinal?
Não havia coleta seletiva por ali. Derreti meu relógio no caldeirão da estação. Os dias já eram mesmo diferentes. O tempo mudou. Nada ficava mais
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