quarta-feira, 24 de março de 2010

As saudades, minhas estações e orgãos.

A saudade é um vento.
Tem dias que não sopra, que não aparece...
não balança as folhas das árvores.
São os dias secos que magoam meus pulmões.

A saudade é um frio,
aquele que adentra ao peito,
aquele que esfria meu timo
e apoquenta meus rins...

A saudade é um trem triste.
Na mesma estação que chega, volta
e só quando quer, aparece.
Só o coração sabe dizer....

A saudade às vezes é feia.
Parece xixi e cocô.

Mas de tanto balançar, vir e desvir,
de agitar e acalmar,
acabo por conceder ao costume.

A saudade, esta velha companheira
da língua brasileira,
vira mistério nas mãos do incauto amigo.

Como jardineiro,
planto sementes de anti-saudades e, quieto,
tento colher em outra língua.
Sim, rego todos os dias, em diversos dialetos,
para que na próxima primavera,

possa colher outra palavra.

Aí então eu me desacostumo.
Ah, mas e o sentimento?
Este fica para o acaso.
Quem sabe eu encontre minha amiga,
que é a presença da ausência...
que é saudosa
e às vezes vive aqui,
e depois alhures.


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