terça-feira, 11 de maio de 2010

Eu e a etnografia.


pour Maurici Santos,2010



“A missão etnográfica é árdua, tarda e se demora. Parece que só assim, com um olhar estranho e outros olhares tantos diversos é que se deixa encontrar algo: é onde o desencontro também se estampa, antes escondido como improvável. Toda experiência de olhar é antes uma experiência de olhares e estar atento não basta. A exatidão nem sempre é o que ocorre.


Nem sempre nossos mais enraizados sentimentos e centímetros de ordem e classificação cabem nas gavetas de imaginativos artesanatos, feitos a dedo, para destituir um panteão de deuses salvadores. Aqui o artífice não comanda e seu aprendiz tampouco.


O produto, se é que é final, talvez melhor fosse o processo, sai de onde menos se espera e a construção das integridades se misturam de tal maneira adversa que somente assim algo parece soar como transitória verdade. Pois que tudo o que nos soa como real e verdadeiro, visto de nossas lunetas possantes, é um sem número de dúvidas, contradições, ambigüidades e, às vezes, migalhas de um encontro microscópico.


Por isto etnografar é preciso. É justo que, sem a intenção de ir e vir e ir novamente e não saber bem como voltar, o caminho se desvele muito sutilmente. Quanto bem longe; quanto mais queiramos nos aproximar; este é o balançar da ponte que distingue, que contrasta e que une um e outro. Se há algum que considere abstrair a inconstância, parece ser prudente se acostumar que o que ficou de fora foi apenas o movimento da vida.


Dito assim, na pretensa vontade de conhecer o mundo tal qual quiséramos ou imaginávamos, sobram-nos alguns gomos de ilusão e desconfiança.


Mas afinal, não há um mundo confiável. Há de se contudo aguardar sempre um certo inesperado, que quanto mais de perto, mais se perde; se mais longe vagueia, mais se ilude e, quanto de mais perto se oferece e se estranha, e de mais distante se dá e se aproxima, mais chance se abre ao conhecer”.




pourmauriceETsantos,2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário