por Maurici TF Santos, 2011
Dizem que escrevo na mente,
que escrevo diários no Japão.
Escrevo quando espero o ônibus;
na sombra da asa do avião.
Sou um passarinho...um corrupião;
minhas asas tem espelhos brancos.
Escrevo sem minhas mãos.
Vivo num mar de sargaços,
Num palácio de pintura.
Escrevo lento; gravuras
nos papéis almaços; nas marcas d´água pura.
Escrevo lendo meus sete umbigos,
Nos quartos de minha cama.
Meus quartos são ao todo onze;
São tantos que perdi a conta.
Minhas tintas são de janela,
elas todas medem onze:
uma é de aquarela
e as outras cheiram bronze.
Minhas janelas são de todas onze;
Meus quintais são de um só.
Minha esquina se vê de longe;
os meus poemas dão um nó.
Minha casa tem goteiras
que um dia se chamam solidão;
vejo o sol
na asa do avião.
Cada casa tem seu canto.
Cada canto tem seus dez.
Todo dez não é dez perfeito,
se a cada dez lhe falte um.
Lá estão meus onze cantos,
onde sou onze janelas.
Por elas vejo meu mundo.
Meu canto no mundo; sobrancelhas.
Meus cantos são de respiração,
São sete onzes e quatro setes;
são quartos de onze curvas.
Uso luvas de imaginação
Nas cúspides das janelas,
Há cortinas de seda pura.
Minhas imagens não são imagens
e minhas ruas são falsas ruas.
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